Falta de respeito eleitoral

- Por Manuel Peralta Godinho e Cunha -

Os portugueses ficaram a saber que o Tribunal Constitucional mandou anular ontem mais de 157 mil votos da emigração, exactamente nas eleições legislativas onde os emigrantes mais participaram (em 2019 votaram cerca de 160 mil e em 2022 mais de 240 mil).

Podem ser feitas diversas acusações e respectivas desculpas, mas o que acontece é que esses eleitores não foram bem esclarecidos e o acto eleitoral decorreu com irregularidades tendo depois sido anulados os resultados em dezenas de mesas onde estariam os votos válidos e inválidos. Um enorme fracasso da (des)organização política.

Um partido político governou nestes últimos seis anos, na verdade sem maioria parlamentar mas com o auxílio dos geringonços e um certo apoio do primeiro partido da oposição, tendo tido o tempo suficiente para tentar melhorar esta situação que resultou em grande falta de respeito pelos portugueses que trabalham no estrangeiro e que quiseram exercer o seu direito de voto.

Hoje os emigrantes portugueses na Europa têm um nível de escolaridade muito diferente do que aconteceu há 50 anos e demonstraram que desejam exprimir nas urnas a sua intenção política. Porém com decisão recente de se repetir o voto, provavelmente a votação será menor.

Esta foi uma situação que envergonha a democracia portuguesa e os políticos responsáveis que não respeitaram uns milhares de emigrantes.
Esta foi uma decisão que irá provocar o adiamento da tomada de posse do novo governo. Governo que com maioria parlamentar poderá certamente regularizar todas estas situações e evitar que no futuro se repitam, bem como a necessária actualização – sempre tão falada – dos cadernos eleitorais de fiabilidade duvidosa e a correspondente eliminação de cidadãos já falecidos.

Não chega falar na democracia, é necessário fazer por ela.