Portugal) “Desertos de Notícias” estão quase todos localizados no interior do país
In "O Mirante", o maior e melhor jornal regional de Portugal)
Portugal tem 61 concelhos onde não há jornais nem rádios de informação que ali tenham a sua sede, revela o estudo ‘Deserto de Notícias’, da investigador Giovanni Ramos. No estudo são apontadas as regiões de Trás-os-Montes e Alentejo como as mais afectadas, mas com excepção da zona litoral, há desertos de notícias em todo o país.
O ‘Deserto de Notícias’ é um estudo que começou a ser feito nos Estados Unidos com o objectivo de saber quais eram as localidades que não tinham noticiário local, ou seja, que estavam sem jornal e sem rádio local, tendo também sido feito no Brasil e agora em Portugal.
O investigador associado da Labcom/UBI – Universidade da Beira Interior e autor do estudo, Giovanni Ramos, explica que “são regiões que não possuem noticiário local. São comunidades onde a população, se quer saber o que acontece na sua cidade, na sua comunidade, precisa” de procurar “meios informais porque não há um jornalismo para atender isso”. De acordo com dados de 2021, 19,8% dos concelhos portugueses estão no deserto de notícias.
Este ‘deserto de notícias’ ocorre “em regiões mais distantes dos grandes centros urbanos e com menor actividade económica”, explica o investigador.”No caso português, a situação é mais evidente em Trás-os-Montes e Alentejo mas o distrito de Portalegre, por exemplo, é também bastante afectado”, acrescenta.
Estas regiões “são distantes dos grandes centros, são regiões com menor actividade económica” e “no caso de Portugal têm um detalhe muito importante que é a questão populacional”, já que são concelhos muito pequenos, justifica o investigador.
“Essas vilas não conseguem manter uma estrutura de um jornal ou um modelo comercial a funcionar”, são comunidades “que acabam sendo, digamos assim, abandonadas, porque ficam sem essa informação local” de imprensa e rádio, tornando-se dependentes das televisões para informação do país e do mundo e utilizando meios informais, com a Internet, grupos de Facebook, WhatsApp, “mas aí não é jornalismo profissional”, tratando-se de “um terreno extremamente fértil para a desinformação”, considerou.
.Para além da falta de meios de comunicação social há questões não abordadas no estudo como a qualidade dos conteúdos daqueles que existem por estarem muitas vezes vulneráveis a interferências políticas ou empresariais, embora isso seja difícil de apurar caso a caso. E há também o caso dos chamados jornais fantasma que, apesar de se apresentarem como veículos de notícias, não têm recursos para fazê-lo – o que os faz existirem “apenas nominalmente.
O investigador, que está a fazer um doutoramento em comunicação, adianta que em Outubro vai ser divulgado um outro estudo que analisa os concelhos que estão no ‘Deserto de Notícias’ e dados da abstenção nas últimas eleições legislativas e autárquicas para saber se há alguma correlação.