Por Manuel Peralta Godinho e Cunha.

Hoje vive-se um período estranho onde há medo de falar da Pátria, da Nação, referências que determinada esquerda não gosta e que prefere um discurso cheio de complexados enquadramentos, no receio de invocar uma História que começa por desconhecer, com pavores amedrontados das referências à nacionalidade, às lutas pelo território, às descobertas, aos valores pátrios e que têm preferência a um direccionismo que deseja ressaltar a culpabilização de um passado das descobertas portuguesas e espanholas, como se isso não tenha sido uma epopeia mas sim uma dominação dos povos, onde a grilheta da escravatura é apresentada por cima de toda uma civilidade que foi transmitida às populações locais que desconheciam tudo para além do local onde viviam. 

Se não fossem os portugueses e espanhóis a descobrir, por via marítima, as terras de África e Américas, seriam certamente outros que mais tarde por lá apareceram – como aconteceu com ingleses, franceses, holandeses e belgas – mais facilitados por mapas e maneio de marinhagem que foram aprendendo com os da Ibéria porque, muito naturalmente, não seriam essas populações autóctones e tribais que se fariam ao mar para descobrir a Europa. 

Também foram os portugueses que chegaram a outras paragens nas Índias e que descobriram esses caminhos marítimos para, mais rápido e facilmente se incrementar uma troca de culturas e uma maior facilidade da comercialização das especiarias na Europa. 

Nada disto se fez sem lutas, batalhas, naufrágios, doenças e medos, que outros povos da Europa não conseguiram nem souberam fazer. 

“O verdadeiro patriotismo não é o amor ao solo, é o amor ao passado, é o respeito pelas gerações que nos antecederam.” (Fustel de Coulanges). É certamente um erro querer analisar e estudar o passado e compara-lo com os parâmetros actuais, mas é também um erro querer pedir desculpa agora ao que se passou menos bem e certamente com abusos no poder no antanho, havendo porém sempre, na História dos povos, páginas menos boas, algumas cruéis, como aconteceu há cerca de 47 anos, também em África, quando as tropas portuguesas, comandadas pelos militares que emergiram no comando das Forças Armadas depois do 25 de Abril de 1974 e que realizaram uma descolonização medonha, desregrada, com chefias militares enfeudadas a uma política marxista-leninista, obedecendo a potências estrangeiras do bloco da União Soviética e entregaram desarmadas, ao até aí inimigo, as forças militarizadas exclusivamente formadas por africanos que em 1974 representavam aproximadamente metade dos contingentes nos três territórios, com destaque para os Flechas em Angola, os Grupos Especiais de Pisteiros de Combate em Moçambique e, na Guiné, os Comandos Africanos e os Fuzileiros Especiais Africanos. 
Essas chefias militares portuguesas que colaboraram com os políticos de esquerda em 1974 e 1975, que autorizaram uma descolonização vergonhosa e proporcionaram esses crimes de guerra – nomeadamente na Guiné – com fuzilamentos sumários e torturas medonhas aos africanos que por Portugal tinham lutado, ficaram para sempre mencionados nas páginas negras e tristes da História portuguesa e de tal forma que não se pode agora pedir perdão, porque a desculpa não chega para apagar esses crimes.

* Manuel Peralta Godinho e Cunha, engenheiro, reformado. Frequentou o Colégio Moderno em Lisboa, o Colégio Nun’Álvares em Tomar e as Escolas de Regentes Agrícolas de Santarém e de Évora. Cumprindo o Serviço Militar, foi mobilizado para a Guerra de África como Furriel Miliciano e integrado na Companhia de Caçadores 1611 esteve em Angola nos anos de 1966 e 1968. Autor dos livros “Praças de Toiros de Santarém”; “40 Anos do Grupo de Forcados Amadores de Évora”; “Os Forcados nos Concursos de Ganadarias de Évora”; “João Patinhas – Um Forcado”; “À Barbela!”; “Arenas”; “Brinde” – ofereceu todos os seus direitos e autor para fins de beneficência. Com o pseudónimo de “Manuel da Zica” é o autor dos livros de humor tauromáquico: “Moscas Taurinas” e “O Gato do Campo Pequeno”.